Os Estudos Comparados são centrais para o avanço das bases conceituais que são sustentação ao conceito de Música Pop Periférica, de autoria da pesquisadora Simone Pereira de Sá. Este é um dos achados resultantes da pesquisa “Música Pop Periférica na América Latina: Análise Comparativa dos Contextos Brasil-Argentina”, que contou com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) através edital Universal.
Recorrendo à aproximação entre as teorias do campo dos Estudos de Performance, a partir de Richard Schechner e Diana Taylor, com as Teorias das Mediações Comunicacionais, de Jesus Martín-Barbero e Nestor García Canclini, a pesquisa, que investigou as semelhanças e diferenças estéticas entre a música brega brasileira e a cumbia villera argentina, apostou numa metodologia que unia a pesquisa de campo (com técnicas como entrevista em profundidade, observação participante e desenvolvimento de escritas a partir de pontos de vista) em confronto com as produções audiovisuais dispostas em rede e os resíduos de conversações online em ambientes digitais.
Trata-se de uma investigação amparada nos Estudos Comparados, apresentando tanto possibilidades através da clivagem de contextos culturais distintos quanto na formulação de homologias estéticas e políticas que permitam conjecturar sobre correlações técnicas, situacionais, identitárias e políticas nos sistemas produtivos da música pop periférica. Junto ao estudo mais “de campo”, na verdade, combinando com ele, houve a mobilização das chamadas metodologias constelatórias de audiovisual, com inspiração nos estudos de Mariana Souto baseado no pensamento de Walter Benjamin, que recorre a formação de conjuntos de audiovisuais que, postos em relação, apontam para a formulação de hipóteses sobre aspectos estéticos e políticos no audiovisual. As disposições metodológicas encontram ressonância também nos estudos sobre música pop e sua capilaridade na América Latina, reconhecendo como os contextos de desigualdade social agem sobre o consumo cultural e suas dimensões performáticas. Do ponto de vista epistemológico, recorre-se a produção intelectual argentina sobre música e comunicação como alicerce para a discussão em torno das músicas populares e suas relações com questões de classe social, gênero e raça. O projeto sintetiza as diferentes maneiras como que os estudos argentinos e brasileiros sobre música e comunicação auxiliam na interpretação de fenômenos pop-periféricos.
Os resultados da pesquisa contribuíram para a difusão e transferência de conhecimento da Academia para a sociedade civil. Duas frentes de divulgação científica e circulação de informação em veículos de comunicação e mídia qualificaram o debate público, reduzindo estigmas e contribuindo para a formação de quadros complexos em torno das cidadanias através da música e da cultura.
1) Cultura como sintoma de cidadania – A participação em programas de televisão situando as questões que envolvem gêneros musicais pop periféricos e a capilaridade no tecido urbano (Tema: Recife e o Brega-funk – Programa Opinião Pernambuco – TV Universitária), além da redução dos estigmas em torno de questões de gênero e sexualidade em produções culturais das periferias (Tema: Por que os homens rebolam mais do que as mulheres no brega-funk do Recife? – Portal UOL – Universo Online) desvelam a circulação da produção cultural como sintoma de resistência (Tema: Como a cultura nos ajuda a resistir? – Rádio Universitária – Programa Fora da Curva).
2) Reconhecimento de potencialidades musicais das cidades pelo Poder Público – Durante a vigência do projeto, uma série de debates sobre como o Poder Público municipal e estadual enquadravam as potencialidades musicais do Recife emergiram nas mídias. A qualificação do debate sobre a importância dos gêneros pop periféricos na formulação de Políticas Públicas no campo da cultura (Tema: Recife é nomeada cidade da música – CBN – Central Brasileiro de Notícias ) e um olhar prospectivo que enquadra a música brega através da lógica das vivências democráticas (Tema: Olhares de Recife – Recife 500 anos – Instagram – Facebook) foram centrais numa agenda de debates públicos.
Créditos de imagem em destaque: Thiago Soares.