Música como fator de cidadania através da cultura

O projeto “Música Pop Periférica na América Latina: Análise Comparativa dos Contextos Brasil-Argentina”, que contou com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) através edital Universal, apresenta uma série de avanços para a área de Comunicação e Música no âmbito das Ciências Sociais Aplicadas. Recorre aos quadros conceituais dos Estudos Comparados de gêneros musicais para debater as semelhanças e diferenças estéticas, políticas e performáticas da música brega e da cumbia villera nos contextos Brasil e Argentina. Durante quatro anos (incluindo uma prorrogação em função da pandemia de covid-19), pesquisadores brasileiros e argentinos trabalharam em rede para construir novos arsenais teóricos e metodológicos para compreensão das complexidades em torno das músicas pop periféricas

A cumbia villera consiste num gênero musical que se origina nas villas, ou áreas pobres e periféricas da Grande Buenos Aires, e que, neste estudo, serviu de base comparativa para debates estéticos a partir da música brega, tipologia musical também oriunda das áreas periféricas da Região Metropolitana do Recife. A partir de uma investigação através de uma metodologia multisituada (ou seja, tanto com pesquisa de campo quanto de ordem digital), levantou-se um conjunto de diagnósticos centrais para a compreensão da música como um fator de redução de estigmas e de construção de cidadanias através da cultura no contexto da América Latina

O estudo, que teve coordenação do pesquisador Thiago Soares (UFPE), líder do grupo de pesquisa em Comunicação, Música e Cultura Pop (Grupop-CNPq) reuniu as pesquisadoras Simone Luci Pereira (UNIP-SP – Brasil), Mercedes Liska (Universidad de Buenos Aires) e Malvina Silba (Universidad de La Plata – Argentina) contou com missões acadêmicas bilaterais, reuniões para deliberações e estudos dirigidos.

O projeto contribui para a consolidação dos aportes sócio-históricos e midiáticos para estudo das músicas populares periféricas na América Latina. A pesquisa dá continuidade aos estudos que resultaram o livro “Ninguém é Perfeito e a Vida é Assim: A Música Brega em Pernambuco” (2a. Edição, 2021 – finalista do Prêmio Jabuti na categoria Ensaio – Economia Criativa), que foi central no processo de aprovação da Lei Estadual 16.044/2017, através da Comissão de Cidadania da Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco e que resultou na chamada “Lei da Música Brega”. Através da lei, a música brega de Pernambuco foi reconhecida como “expressão cultural” do Estado e artistas vinculados ao gênero musical passaram a ter direito a pleitear recursos do Governo Estadual para iniciativas culturais e de cidadania.

As pesquisas financiadas por este projeto integram documentos que municiam as Audiências Públicas na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) para ressaltar a importância da música brega para a economia das periferias e para as indústrias criativas do lazer e do entretenimento da cidade do Recife e do Estado de Pernambuco. A atual pesquisa serviu de base para a elaboração da lei n.º 2.521, aprovada no ano de 2021, que reconhece a música brega como Patrimônio Imaterial do Recife e declara o Município do Recife, no Estado de Pernambuco, como “Capital Nacional do Brega”. Portanto, a pesquisa desenvolvida dá sustentação a debates nas Comissões de Cultura e de Constituição e Justiça e Cidadania de Pernambuco para avanços em torno da formação de quadros de cidadania cultural através da música.

Crédito de imagem em destaque: Bárbara Wagner / Benjamin de Burca.

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